sábado, 26 de setembro de 2015

Obstáculos

Toca meus lábios com a mesma devoção que mostra a ela 
Beija meu rosto 
Saboreia minhas lágrimas
Aproveita meu toque 
Amor

Grita a agonia que me parte o seio 
Me arranha a pele ferida 
Derrama meu sangue 
Esconde meu corpo
Dor

Sente meu cheiro, amor, e cobre minha pele com a sua
Marca a mim 
Faz-me sua

Sua
O calor do nosso amor esquenta-me o rosto e a mente
Derrete e escorre 
Mistura 

Minha e sua 
Nossa

Um pedaço de mim te pertence e nada de ti é meu
Beija e morde  
Ame a mim, ame a mim 
Paixão e medo 

Liberta-me do teu feitiço, 
eu peço em meio a gemidos 
Abra a gaiola 
Meu amor por você não é sadio, querido

Meu torturador é a minha salvação. 

sexta-feira, 25 de setembro de 2015

O Fim do Caminho

Como chegou a tal ponto? Sem volta no beco sem saída; a estar presa em meio seus próprios pensamentos, a estar perdida em sua própria vida.

Perdida em si

Não sabe e não quer saber. Não importa o porquê de estar onde está ou quem a levou até lá, o que importa é que está. Está perdida, sozinha. Semi-morta, semi-viva. Morta-viva. As pílulas gritam em sua mesinha de cabeceira todas as manhãs, enganando-a, seduzindo-a com promessas que aqueles meros comprimidos não podem cumprir; as promessas de dias melhores.

Acorda todos os dias para a luta interna que ninguém acompanha, ninguém assiste. A luta que nunca terá fim, apenas cria novos machucados à cada passo trôpego; as cicatrizes em seus tornozelos refletem aquelas que tem por dentro. Cicatrizes de batalha, de derrotas, causadoras de extrema vergonha. Causadoras dos tais dias piores.

Levanta da cama para o dia nublado, mesmo que lá fora esteja ensolarado. O reflexo no espelho mostra a garota de lábios rosados e cabelos penteados; já seus olhos mostram o zumbi que se esconde na carcaça de menina.

Isso que vive é a tal vida? 

Liga o rádio e fecha os olhos; a letra feliz e a melodia dançante entram por um ouvido e passam direto pelo coração gelado, sem causar efeito, sem dividir um traço de sua alegria com aquele pobre coitado que está tão necessitado. Quer um pouco daquele carinho, um pouco daquela felicidade. Quer ver a luz e voltar a bater com vontade, mas está trancafiado em um lugar escuro, sem pulsar de verdade. Bate. Tum. Tum. Mas não quer. Preferia estar parado, mas está sendo obrigado a continuar naquela tortura tão dura, tão dolorida. Tum. Ele quer parar, ela quer que pare. Tum. Ele não para e ela perde as esperanças.

Adeus, dias melhores, pois sabe que não chegarão; sabe que está fadada àquilo, àquela tristeza, àquela solidão. Sabe que sempre será Clarisse como aquela Clarisse da canção.

Finito

Você respira.

Acorda todo dia de manhã;
Seu coração bate e
Suas mãos mexem,
Você ouve e fala.

Nada disso importa.
Uma vez que a luz deixa seus olhos,
Já é tarde demais.

Óbito.
De dentro pra fora.

Querer é poder quando se é dono de si

A fumaça que lhe queima os pulmões é o único alívio que tem, a dor num flamejar doente e conhecido. Sopro de vida que deriva da morte.

A beleza da escolha.

'Isso te mata aos poucos,' dizem; ela responde, com um sorriso nos lábios secos (nos quais o cigarro gruda sem cair): 'não tenho pressa.'

Relata a Alma

Assisto, com o olhar embargado,
o meu corpo ser velado.
Conto, com certa agonia,
todas as cadeiras vazias.

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

Nossas Cores

Eu via cor-de-rosa; um tom claro nas delicadas bochechas e um mais concentrado em seus lábios bem desenhados. Eu gostava do rosa tanto quanto gostava do azul e do marfim; o azul de seus olhos e o marfim da sua pele. É impossível se esquecer do laranja dos seus cabelos esvoaçantes - sem dúvidas o mais belo e inesquecível tom de laranja que eu já vi.
Tão colorida que me fez obcecado. Tão obcecado que, não importava para onde olhava, ela estava lá; fosse no rosa das flores, no azul do céu, no marfim das teclas do meu velho piano ou no laranja do pôr-do-sol. Era sempre ela. O mundo podia ser preto e branco, mas eu via arco-íris.
Troquei minhas tão amadas cores pastéis por uma paleta diferente por uma noite. Agora, sem ela, meu mundo não passa de uma tela em branco.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Talvez Seja Lolita

Ela tinha redondos e expressivos olhos azuis - digo 'tinha' porque já faz algum tempo que não a vejo. Descreve-la-ei como me lembro, talvez as coisas tenham mudado; sei que mudaram. Os sedosos fios de cobre que lhe serviam de moldura ao rosto nunca estavam na cor natural; eram lindos de qualquer forma, mas sempre gostei do tom ruivo que lhe servia tão bem, embora ela odiasse. Cores normais como amarelo, preto, até mesmo vermelho. E também cores bizarras como azul, roxo, verde e, o seu preferido, branco. A verdade é que era linda de qualquer jeito; suas feições eram perfeitas por si só para precisarem de uma certa cor de cabelo para se destacarem.
Eu preferia seu rosto limpo, embora não reclamasse quando alongava os cílios e mais nada. Seus olhos, as portas de sua doce alma. A fonte da minha perdição. Os mais lindos olhos, o mais puro tom de azul; pertenciam a minha menina. Devo também descrever seu cheiro, eu sei, caso contrário não entenderiam meus motivos para ama-la tão intensamente. Essa menina de saia rodada e meias 3/4 era o meu purgatório particular. Seu cheiro era tão doce e floral, tão inocente e delicioso; soube que estava nas suas mãos quando me peguei procurando seu aroma nas outras. Mas nenhuma tinha o mesmo cheiro que a minha Charlie. Podiam usar o mesmo perfume, o mesmo sabão, o mesmo amaciante, mas nunca teriam o apelo que o cheiro dela tinha sobre mim. Era desesperador. Fui sufocado pelo amor que sentia pela minha menina.
Não sei quando tudo isso se perdeu e a minha Charlie deixou de ser minha e deixou de ser Charlie para virar Charlotte. Dizia que seu antigo apelido era passado e infantil. Tornou-se irreconhecível, embora continuasse a mesma por fora, porque sua essência mudara. Ela tinha o mesmo cheiro, o mesmo sorriso, o mesmo cabelo, os mesmos olhos; mas virou uma mulher, deixando de ser menina, do pior dos jeitos. Depreciativa, autodestrutiva; perdeu sua luz e sua doçura. Charlotte, não mais Charlie.