Sempre gostei de ver aqueles longos cabelos cor-de-fogo brincarem ao vento, as bochechas coradas e os encantadores olhos azuis fitando o chão, inundados numa infantil timidez. Gostava de falar besteiras para que me permitisse ver o charmoso espaço entre seus dentes da frente quando os expunha numa de suas risadas silenciosas; gostava de fazê-la rir.
Talvez eu estivesse apaixonado desde o início, só não podia admitir. Talvez eu não quisesse concordar com meu cérebro que a muito já sabia dos meus tolos sentimentos. Ela sempre foi linda, a mais linda de todas as meninas em suas saias rodadas e blusas de botão, mas sempre vi além de suas maçãs do rosto bem moldadas e seus lábios cheios em forma de coração. Sempre a vi como minha; minha pequena Bela. Minha, o pronome possessivo sendo usado propositalmente a cada vez. Bela de Lisbela, tão bonita que o próprio nome explica para os desatentos. Lis-Be-La. Lis-Bela. A mais bela flor no jardim de minha vida.
O tempo passa para todos, sentimentos vão e vêm, as pessoas mudam; eu mudei.
Nunca tinha visto seu rosto maquiado; parecia outra pessoa. Apesar de ter o mesmo brilho doce no rosto, parecia outra Lisbela. Uma Lisbela não tão bela, que alongara o perfeito redondo dos olhos com um delineador fuleiro e melecara os lábios rosados com um gloss grudento. Meu maior problema, na verdade, foi notar que escondera as mais lindas sardas que carregava em suas bochechas com uma estranha base mal-cheirosa - senti o cheiro de produto barato quando inclinei-me para beijar-lhe o rosto. Ela tentara se livrar do que um dia fora sua parte favorita em si própria. Foi quando eu notei que não era mais a minha pequena Lisbela. Pequena sim; Lisbela também; mas não mais minha. Troquei meu adorado pronome possessivo por um artigo indefinido qualquer.
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